
PIB surpreende com força do agro, que mascara falta de fôlego do consumo
O resultado surpreendeu analistas ao ficar acima da mediana das projeções, que indicavam alta de 1,3%, segundo a agência Bloomberg
LEONARDO VIECELI E EDUARDO CUCOLO
RIO DE JANEIRO, RJ E SÃO PAULO, SP
O crescimento da economia brasileira acima do previsto no primeiro trimestre de 2023 veio no impulso da agropecuária, que acabou mascarando o fôlego menor do consumo e a fraqueza dos investimentos produtivos em meio ao cenário de juros altos.
De janeiro a março deste ano, o PIB (Produto Interno Bruto) do país teve alta de 1,9% ante o quarto trimestre de 2022, de acordo com os dados divulgados nesta quinta-feira (1º) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O resultado surpreendeu analistas ao ficar acima da mediana das projeções, que indicavam alta de 1,3%, segundo a agência Bloomberg.
O crescimento nos três meses iniciais do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também provocou uma onda de revisões para cima nas estimativas para o PIB no acumulado de 2023.
Agora, as projeções sinalizam alta próxima ou acima de 2% até dezembro -algo fora do radar até pouco tempo atrás. Em 2022, o PIB cresceu 2,9%.
Apesar da surpresa positiva, o avanço da economia no primeiro trimestre de 2023 deve ser visto com cautela, observam analistas.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
É que, segundo os dados do IBGE, o desempenho ficou mais associado à agropecuária, cujos impactos se concentram no início do ano e tendem a se dissipar ao longo dos meses.
Com a projeção de recorde na safra de grãos, a agropecuária teve um salto de 21,6% no PIB de janeiro a março. Foi a maior alta do setor desde o quarto trimestre de 1996, disse o IBGE.
Enquanto isso, também do lado da oferta no PIB, o setor de serviços avançou 0,6%, e a indústria ficou praticamente estagnada, com leve variação negativa de 0,1% ante o quarto trimestre de 2022.
Pelo viés da demanda, o PIB foi puxado pelo comércio exterior, com destaques para exportações de petróleo, minerais e alimentos, e pelo aumento dos estoques devido à parte da safra agrícola que ainda não foi exportada.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
O consumo das famílias, por outro lado, desacelerou para 0,2% no primeiro trimestre, e os investimentos produtivos na economia brasileira caíram 3,4%.
“Um ponto de atenção é a taxa de investimento do PIB, que teve nova queda, para 17,7%, e pode reduzir o potencial da economia à frente”, afirma Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter.
O nível dos juros é apontado por analistas como um dos motivos por trás do freio na demanda.
Atualmente, a taxa Selic está em 13,75% ao ano, o que encarece os empréstimos para empresas e consumidores. Como avaliou o IBGE, houve um descolamento no comportamento do PIB geral e do consumo no trimestre.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
“É um PIB que conta a história de dois Brasis. Um é mais impactado pelas commodities, não só agrícolas e também extrativas, e o outro está mais ressentido com os juros”, diz Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.
Após a divulgação do resultado do primeiro trimestre, a MB elevou sua projeção para o PIB no acumulado de 2023. A alta prevista passou de 1,3% para 2,1%. Há chance de novas revisões para cima.