
Família Prada traça um plano para evitar drama de sucessão

Depois de transformar uma pequena loja de couro em Milão em um império de luxo de US$ 19 bilhões, Miuccia Prada e Patrizio Bertelli deram os primeiros passos em um caminho de longo prazo para garantir o futuro da Prada SpA.
Lorenzo Bertelli, o filho mais velho do casal bilionário, já assumiu participações importantes, enquanto acumula experiência nas operações diárias liderando unidades de marketing e sustentabilidade.
A sucessão é uma questão crítica para empresas familiares italianas como a Prada, e não é típico que os fundadores tomem medidas, especialmente quando permanecem fortemente envolvidos.
Mas Miuccia, de 76 anos, e Patrizio, de 78, pretendem entregar as rédeas de uma forma a garantir que a Prada mantenha a sua independência. Esse é um desafio significativo no mundo do alto luxo, onde dominam gigantes multimarcas como LVMH e Kering SA.

A Itália viu uma marca após outra ser adquirida por grandes players globais. A LVMH é proprietária da Fendi e da Loro Piana e recentemente comprou uma participação na empresa que controla a Moncler SpA. O fundo L Catterton, apoiado pela LVMH, foi fundamental para fechar o capital do sapateiro Tod’s SpA. A Kering é dona da Gucci, da Bottega Veneta e tem a opção de obter o controle da Valentino.
O risco para a Itália está se tornando marginal, à medida que a tomada de decisões se transfere para Paris, Londres e Nova Iorque, apesar de cerca de 80% dos bens de luxo vendidos mundialmente passarem por oficinas e fábricas italianas, segundo Patrizio. Para as famílias por trás das marcas, significa perda de controle e prestígio.
Para se proteger contra esse destino, Miuccia – apelidada internamente de “La Signora” – transferiu preventivamente a propriedade de quase todas as suas ações em entidades importantes, de acordo com documentos italianos. Mesmo mantendo o direito de voto, Lorenzo, 36 anos, recebeu 50,5% de sua holding Ludo SpA. Seu irmão mais novo, Giulio – que atualmente não planeja trabalhar na empresa da família – ficou com o resto.
Até agora, Patrizio não tomou medidas semelhantes e mantém o controle total do seu veículo de investimento, mostram os documentos italianos. Isso não mudará a posição de Lorenzo, já que suas participações poderiam ser divididas de três maneiras, já que ele tem uma filha de outro relacionamento. Assim, Patrizio – o mentor da expansão industrial da Prada – apoia firmemente a mudança.
Numa entrevista à Bloomberg em 2021, ele disse que caberia a Lorenzo decidir quando estará pronto para assumir as rédeas do grupo. Na época, o Bertelli mais velho disse que poderia entregar o cargo em cerca de três anos.
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A transferência de propriedade significa que o ex-piloto de rali passará a deter a maior participação na holding da família, que detém 80% da Prada. Isso sustentaria seu papel crescente na empresa. A lista de cargos de Lorenzo inclui diretor de marketing, chefe de responsabilidade social corporativa e diretor executivo.
Embora Lorenzo tenha dito aos seus pais, anos atrás, que estava preparado para trabalhar na empresa da família, será difícil liderar o grupo com sucesso. No mundo imprevisível do luxo, a próxima etapa da história da Prada poderá abrigar maior turbulência. As condições que permitiram a Miuccia transformar a Prada numa sensação global já não existem.