China aplica multa recorde à PwC, empresa de auditoria, por fraude da Evergrand
O governo da China multou a PwC em 441 milhões de yuans (US$ 62 milhões) por seu trabalho de auditoria nos relatórios financeiros inflacionados da Evergrande de 2018 a 2020. Os reguladores também determinaram o fechamento da filial da PwC em Guangzhou.
A PwC era um dos alvos de uma grande investigação do governo chinês para apurar fraudes que levaram ao colapso financeiro da Evergrande, que era uma das principais construtoras do país. As autoridades disseram que a principal unidade da companhia, a Hengda, superestimou sua receita em 564 bilhões de yuans nos dois anos até 2020.
A PwC “fechou os olhos” para a fraude da Evergrande, disse o regulador em um comunicado separado. “Essa penalidade severa terá um grande impacto na confiança dos clientes domésticos remanescentes da PwC”, disse Pingyang Gao, professor de contabilidade e direito na HKU Business School. “É muito provável que haja uma grande saída de clientes. Isso pode significar o fim dos negócios da PwC na China.”
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A PricewaterhouseCoopers Zhong Tian LLP, uma empresa registrada em Xangai e parte da rede global da PwC, foi a auditora da Hengda durante o período em questão. A PwC foi auditora da Evergrande por mais de uma década, até renunciar em janeiro de 2023 devido ao que a incorporadora descreveu como divergências relacionadas à auditoria.
A Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China descobriu que 88% dos registros de observação da PwC sobre projetos imobiliários da Evergrande em 2019 e 2020 eram falsos, levando a “documentos de trabalho de auditoria gravemente não confiáveis”.
Alguns projetos residenciais que a PwC considerou concluídos na época ainda eram “terrenos vazios” quando os inspetores os visitaram posteriormente, acrescentou o regulador. A firma de auditoria também evitou deliberadamente verificar projetos habitacionais que a Evergrande marcou como “não visitar”.
“O trabalho realizado pela equipe de auditoria da Hengda da PwC Zhong Tian ficou muito aquém das nossas altas expectativas e foi completamente inaceitável”, disse Mohamed Kande, presidente global da PwC, em comunicado.
Daniel Li concordou em renunciar como sócio sênior da empresa na China, mas continuará apoiando os negócios em sua função de contador-chefe da unidade local, informou a empresa na sexta-feira. Hemione Hudson, líder global de risco e regulamentação, assumirá interinamente e se mudará para a região.
As multas incluem 325 milhões de yuans da Comissão Reguladora, quase o equivalente ao total distribuído a mais de 50 firmas de auditoria nos últimos três anos, segundo o órgão regulador. O Ministério das Finanças impôs uma multa de 116 milhões de yuans.
Enquanto isso, o Conselho de Contabilidade e Relatórios Financeiros de Hong Kong disse que sua investigação sobre as auditorias da PwC da Evergrande na cidade ainda está em andamento.
Entre as quatro maiores empresas globais de contabilidade, a PwC era uma das mais utilizadas por empresas imobiliárias chinesas listadas em Hong Kong, segundo dados compilados pela Bloomberg. Ela auditou as contas de algumas das maiores incorporadoras do país, incluindo Country Garden e Sunac China, antes de elas também entrarem em inadimplência com suas dívidas.
PwC sente a crise
A PwC, com 291 sócios e mais de 1,7 mil contadores certificados, relatou receita de 7,9 bilhões de yuans em 2022, tornando-se a maior arrecadadora entre mais de 9 mil concorrentes locais, segundo dados oficiais. Ainda assim, isso é uma fração da receita global da empresa, de US$ 50,3 bilhões no ano.
Desde março, mais de 30 empresas de capital aberto sediadas na China continental deixaram a PwC como sua auditora, de acordo com registros da bolsa de valores. Gigantes estatais como o Bank of China, China Life Insurance, China Telecom e PetroChina estão entre elas. As empresas chinesas que recentemente dispensaram a PwC pagaram mais de 800 milhões de yuans em taxas de auditoria no ano passado, de acordo com cálculos da Bloomberg News com base nas divulgações dos relatórios anuais das empresas.
A PwC também cortou pelo menos 100 funcionários em suas operações na China em julho, segundo a Bloomberg. Mais da metade de uma equipe foi demitida, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto. A ameaça de penalidades regulatórias e a perda de clientes corporativos chineses também levaram alguns funcionários a buscar oportunidades em outros lugares.
A crise da Evergrande
Durante o boom imobiliário da China, a maioria das incorporadoras arrecadou dinheiro vendendo casas parcialmente construídas e prometendo entregá-las em alguns anos. Os compradores deram entradas e fizeram hipotecas. O dinheiro deles deveria ser colocado em contas de garantia e liberado para os desenvolvedores quando a construção fosse concluída.
Embora muitas incorporadoras chinesas tenham declarado em seus relatórios anuais políticas semelhantes de reconhecimento de receita, a Evergrande pode ter ultrapassado os limites.
Antes de 2021, a Evergrande registrava receita de vendas contratadas de muitos projetos antes de concluir e entregar as casas aos compradores. Isso permitiu que a incorporadora relatasse passivos e índices de alavancagem menores, o que facilitou a venda de títulos domésticos e internacionais.