
As muitas razões da Mondelez para tentar comprar o chocolate Hershey’s de novo

A mais recente proposta da Mondelez International pela Hershey ressalta os desafios impostos pelos altíssimos preços do cacau e pela resistência dos consumidores em gastar muito.
Na segunda-feira (9), a Bloomberg informou que a Mondelez fez uma abordagem preliminar sobre uma possível combinação. Um acordo poderia criar um grupo de alimentos com vendas combinadas de quase US$ 50 bilhões e representar um desafio maior para a concorrente Mars, a maior fabricante de confeitos do mundo. A questão depende em grande parte do Hershey’s Trust, que controla cerca de 80% das ações da empresa.
Seria também o maior negócio do ano, superando o acordo da Mars para comprar a Kellanova por quase US$ 36 bilhões, incluindo dívidas, em agosto.
A Mondelez, fabricante dos biscoitos Ritz e Oreo sediada em Chicago, já tentou comprar a Hershey antes. Mas em 2016, a fabricante de salgadinhos abandonou as negociações depois que a Hershey rejeitou sua oferta de US$ 23 bilhões. Representantes da Hershey e da Mondelez disseram que não comentariam rumores de mercado.
Agora, uma confluência de fatores poderia tornar o negócio mais atraente para ambas as empresas. Os preços do cacau atingiram níveis recordes este ano, pressionando os fabricantes de chocolate a aumentar os preços, mesmo com o arrefecimento da inflação geral dos alimentos. A Hershey também está sendo pressionada por compradores que estão cortando os gastos com “indulgências alimentares”. Desta vez, a Hershey pode não ser tão rápida em rejeitar uma oferta.
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“Está claro que, para confeitos e salgadinhos, você precisa de ambos para ser uma potência e competir de forma eficaz”, disse Arun Sundaram, analista da CFRA Research, observando que o interesse da Mondelez vem apenas alguns meses após o anúncio da união Mars-Kellanova. A Mars, conhecida por seu chocolate, receberá os salgadinhos da Kellanova, como os chips Pringles e as barras Nutri-Grain.
A Mondelez também tem uma ampla rede de distribuição, disse Sundaram. “Seus produtos estão em toda parte, lojas de conveniência, aeroportos”, disse ele. “Se eles adquirissem a Hershey, expandiriam imediatamente a distribuição.”
A associação da Mars com a Kellanova aumentou a pressão sobre a Mondelez, liderada pelo CEO Dirk Van de Put, para aumentar o volume a fim de competir melhor.
Preços do cacau
A Hershey foi particularmente atingida pelos preços recordes do cacau, com o contrato mais ativo dos futuros da commodity subindo cerca de 150% este ano. O chocolate é responsável por mais de 88% de receita da marca, segundo a Bloomberg Intelligence. Na mais recente teleconferência de resultados da empresa, o diretor financeiro Steve Voskuil disse que a Hershey está prevendo “um aumento bastante significativo” nos preços do cacau para o próximo ano.
“A amêndoa de cacau, é claro, é a maior parte” dos custos mais altos, disse Voskuil. “Mas há também a manteiga de cacau, o licor de cacau e alguns dos outros derivados físicos do cacau que estarão dentro dessa inflação”, acrescentou.
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A Mondelez é menos dependente do chocolate, que representa menos de um terço de sua receita. Sua disposição de se aprofundar no mercado de chocolate pode ser uma aposta de que os preços do cacau se estabilizarão, embora a maior escala e a diversificação de fornecedores sejam um benefício, mesmo que os mercados permaneçam voláteis. O Diretor Financeiro Luca Zaramella disse em uma teleconferência de resultados no final de outubro que a empresa espera que os preços se normalizem até 2026.
Os futuros do cacau em Nova York haviam esfriado na época, mas desde então subiram mais de 50%, à medida que aumentam as preocupações com o mau tempo e a redução da produção na África Ocidental, a maior região produtora. Isso pode significar mais sofrimento para as empresas de chocolate que estão reconstruindo os hedges de cacau e repondo os estoques.