O peso médio do gado abatido saltou mais de 14% em duas décadas, enquanto o peso dos bezerros desmamados avançou 12% em dez anos. Ao mesmo tempo, a produção de carne por hectare saltou 36% e o Brasil tem vacas entre as mais valorizadas do planeta, inclusive a recordista mundial.
Esses são alguns dos dados que a pecuária nacional tem registrado nos últimos anos devido ao avanço da genética bovina, que está exposta em Uberaba, no Triângulo Mineiro, durante a Expozebu, que começou no sábado (27) e se encerra neste sábado (4).
O melhoramento tem como objetivo permitir que os animais tenham combinações genéticas mais benéficas para que a produtividade e, consequentemente, o ganho financeiro, sejam maiores.
Isso é feito por meio da seleção -escolha das melhores matrizes e touros que serão os pais da geração seguinte- e também por meio do cruzamento entre animais de raças diferentes.
Foi com base nesses cruzamentos que os animais passaram a ter ganhos em seu peso, com mais rapidez para irem ao abate e gerando mais lucro aos pecuaristas. O maior exemplo é o da vaca Viatina-19 FIV Mara Móveis, que teve um terço de seus direitos vendidos num leilão em junho em Arandu (SP) por R$ 6,993 milhões.
Isso significa que seu valor total foi avaliado em cerca de R$ 21 milhões (R$ 21,61 milhões, corrigidos pela inflação), recorde mundial.
“A produção de carne está sustentada no tripé sanidade, alimentação e genética. Não há como negar que o Brasil apresentou evolução significativa em todos esses fatores, contudo alguns estudos apontam que a produtividade animal explicou 80% do aumento da produção pecuária, sendo 65% devido ao aumento do ganho em peso dos animais”, disse Luiz
Antônio Josahkian, superintendente técnico da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu), entidade que organiza a Expozebu.
Segundo ele, o peso médio das carcaças bovinas de machos aumentou 12,6% em uma década, atingindo 19,83 arrobas em 2023 (cada arroba equivale a 15 quilos), e a produtividade por área subiu 36,8% no período, passando de 52,2 quilos por hectare para 71,4 quilos, em 2022.
“É um aumento expressivo se considerarmos que estamos falando do abate de mais de 42 milhões de animais em todo o país, envolvendo inúmeros sistemas de produção diferentes”.
A estimativa de pecuaristas é que a idade média de abate, projetando para um intervalo maior, de 40 anos, tenha sido reduzida de 5 anos para 2,5 anos, também fruto do melhoramento genético.
“A pecuária brasileira vem passando por uma verdadeira revolução positiva nas últimas décadas, com ganhos excepcionais em produtividade e eficiência. Os principais indicadores zootécnicos evoluem ano após ano. É o caso da precocidade sexual e de acabamento, a fertilidade de machos e fêmeas, o acabamento de carcaça de qualidade cada vez mais cedo”, disse o pecuarista e empresário Paulo de Castro Marques, da Casa Branca Agropastoril, um dos donos da vaca recordista mundial.
NEGÓCIO MILIONÁRIO
No caso de Viatina-19 FIV Mara Móveis, os negócios gerados por ela nos 12 meses anteriores ao leilão renderam R$ 7,04 milhões (valor atualizado pela inflação).
O pecuarista afirmou que a genética fez o peso médio de abate subir 14,35% em 20 anos e o peso médio dos bezerros crescer 12% na última década.
“A crescente oferta de carne e a melhoria da qualidade dessa proteína são os objetivos centrais do trabalho de seleção e melhoramento genético. O uso de uma genética de padrão superior acelera o avanço da pecuária e, lá na frente, contribui decisivamente para a oferta de carne premium”, disse.
Ela não é caso único e é um exemplo claro, e caro, dos avanços da genética. Viatina-19 tem pouco mais de cinco anos e é filha de Landau da Di Gênio, que em 2018 teve 50% de seus direitos vendidos por R$ 1,26 milhão (R$ 1,74 milhão, corrigidos pela inflação).
No ano passado, num dos leilões que integram a Expozebu, a vaca Strela FIV do Mura teve 50% de sua propriedade comercializada por R$ 2,569 milhões.
A ABCZ fez, no ano passado, 12.937 visitas a fazendas de 8.897 criadores do país que fornecem genética pura bovina melhoradora para a produção de carne e leite, segundo o presidente da associação, Gabriel Garcia Cid.
“Produzir mais carne, mais leite, em menos tempo, consumir menos, que é uma das grandes engrenagens da sustentabilidade”, afirmou.
Cid disse que o momento vivido pela pecuária brasileira se deve essencialmente à genética e que ela é uma ferramenta indispensável para que as novas gerações de bovinos nasçam com características desejáveis, como adaptabilidade e eficiência.
“Um dia fomos à Índia em busca de zebuínos e hoje o caminho é contrário, a genética zebuína brasileira é altamente valorizada. Prova disso é a atuação do nosso departamento internacional da ABCZ que avança em relações comerciais com mais de 30 países e os mais de 700 visitantes que recebemos durante a Expozebu”. A associação aponta que 80% do rebanho brasileiro tem em seu DNA a genética zebuína.
disse que existe ainda um “espaço gigante” para o melhoramento genético e que a abordagem seletiva atual está alinhada à narrativa global de que é preciso produzir mais usando menos recursos.
Marques concorda e afirmou que ainda há muito por vir nos próximos anos. “A máxima da pecuária é que as novas gerações têm de ser melhores do que as anteriores”.
MARCELO TOLEDO
UBERABA, MG (FOLHAPRESS)